Não dava para imaginar que o gosto pela bebida me levaria por tais caminhos.
Cheguei a pensar que nunca venceria, que já estava no fim.
Parecia impossível, mas estou
Finalmente,
Finalmente,
.
GRATIDÃO
INTRODUÇÃO MUITO PRAZER! A BEBIDA MÁS COMPANHIAS? O BÊBADO CONHECIDO FAMÍLIA AVÓS A FUGA O PIOR SENTIMENTO A ENTREVISTA A PRESSA A VIAGEM TOTALMENTE BÊBADO NO ESQUADRÃO DA VIDA JESUS? A DECISÃO AMOR! COMEÇA AGORA A HISTÓRIA DO NOVO ÉLIO O RECOMEÇO! O DESENCONTRO EM PRESIDENTE PRUDENTE O BENCEIRO OUVINDO A DEUS A RESPOSTA DA CARTA ESTAGIÁRIO DEUS SUPRINDO O TESTE SONHANDO EM BUSCA DO EMPREGO ACIDENTE O NAMORO O CASAMENTO O GRANDE PRESENTE DE DEUS DIA DAS MÃES REFORÇANDO OS VÍNCULOS O DEUS QUE PROVÊ UM HINO QUE EU GOSTO UM SALMO, PARA MEDITAÇÃO
A Deus por sua misericórdia e amor
À Betinha, esposa amada
Ao Samuel, nosso filho
Eles têm me ajudado a prosseguir a cada dia
Aos meus irmãos
Elias Edison Osmar Oswaldo Carlos À minhas cunhadas, meus sobrinhos e minhas sobrinhas À minha irmãzinha Olga À minha mãezinha Encarnação que muito chorou, orou e jejuou por este momento, mas só o enxergou pelos olhos da fé Ao meu querido pai Emílio Carlos que Deus levou um ano antes do nascimento de meu filho Samuel
Estes derramaram muitas lágrimas por mim, e eu me aproveito deste espaço
para um pedido de perdão e para o meu sincero agradecimento.
Vocês sempre foram, e são, pessoas maravilhosas.
À família da minha esposa que também é minha família.
Aos intercessores e a todos os contribuintes do Esquadrão da Vida,
ferramenta usada por Deus para minha recuperação e salvação.
A todas as demais pessoas que me ajudaram a levantar e a permanecer em pé.
Não vou tentar citá-las, senão esta seria a seção mais longa deste livreto.
Deus sabe como sou grato a cada um.
Meu objetivo era escrever um pequeno depoimento para publicar na página
do ESQUADRÃO
DA VIDA de Marília, mas o assunto foi se esticando e
acabou neste livreto.
Deus
tem feito tantas coisas boas em minha vida e eu tenho vivenciado tantos
milagres que não poderia deixar de escrever, mesmo resumidamente.
Sou
grato por todos aqueles que estiveram comigo naquela época, dentre
os quais há muitos vitoriosos, que hoje são pessoas confiáveis,
fazendo diferença onde se encontram.
Alguns
se perderam no caminho, por colocar as vantagens e glória pessoal
em primeiro plano, demonstrando não serem dignos de confiança,
mas de pena. Desejo que se arrependam e se acertem, pois já não
podem alegar inocência.
Evitei
citar nomes, a não ser daqueles que participaram pastoralmente
da minha recuperação. Desejo honrá-los.
Tenho
esperança de que a leitura deste desperte novo ânimo em todos
aqueles que estão pensando em desistir, sejam dependentes, seus
familiares e todos aqueles que se encontram acorrentados por outros motivos.
Deus pode e quer fazer o melhor por você.
A
Deus, toda a honra, toda a glória, todo o louvor, para sempre.
Novembro/2007
—
Eu era o bebê “mais lindo e mais fofo do mundo”, na visão de minha mãe, minhas tias e avós. Quando me viram, realmente acreditaram nisso. Pura emoção, com certeza! Quatro quilos e meio, cinquenta centímetros ao nascer. Era bebê pra ninguém botar defeito! Lindão!
Mamava
tudo o que podia, comia tudo o que me serviam. Sopinhas, pães de
todos os tipos, bolos e bolachas, frutas, legumes, cereais... O que viesse
era comigo, e assim eu fui crescendo.
Já
fui o menino mais inteligente da classe (uma vez a professora disse isso.
Talvez tenha sido só para me agradar, mas ela disse!).
Nasci
no bairro da Penha, em São Paulo, em Julho de 1950. Em Maio de
1952 mudamos para a casa que meu pai construiu, na qual ainda hoje mora
a minha irmã.
Região
suburbana, deliciosa para se passar a infância.
Muitas chácaras, riachos de água limpa, uma vasta área de várzea, com campos de futebol, algumas árvores à beira do riacho, um pequeno lago, no qual eu brincava.
Praticamente
não existia criminalidade. Os vizinhos eram amigos e as crianças
obedeciam a seus pais e aos pais de seus amiguinhos.
Professor
era autoridade para as crianças e era respeitado por todos, adultos
e crianças. Na porta de cada escola, e eu estudava na EEPG Barão
de Ramalho, ficava um guarda-civil, orientando o trânsito e auxiliando
a travessia dos escolares. Todos o conheciam por nome e, mesmo quem não
precisava atravessar, o cumprimentava, pois ele estava ali para ajudar
e era benquisto.
Televisão
era “coisa do outro mundo”, então sobrava tempo para
as famílias conviverem harmoniosamente e conversarem entre si.
Hoje,
um dos riachos foi canalizado, o outro foi retificado. Construiu-se um
“piscinão” para conter enchentes em uma grande área,
cresceram muitos prédios de apartamento...
Já
não é a mesma coisa. Tenho pena das crianças! Onde
brincar?
Naquela
época eu era uma grande ESPERANÇA.
Fui
gordo até os onze ou doze anos de idade, depois eu cresci e fiquei
elegante. Eu me achava o adolescente mais bonito do mundo. Tinha muitos
amigos, bons amigos, bons princípios, bons modos...
Tocava
trompete e trombone na banda do Exército da Salvação
e vivia uma vida maravilhosa. O futuro seria maravilhoso, sem dúvidas,
se não fosse...
—
Provérbios
23:19-35
Ouve tu, filho meu, e sê sábio, e dirige no caminho o teu coração. Não estejas entre os beberrões de vinho, nem entre os comilões de carne. Porque o beberrão e o comilão acabarão na pobreza; e a sonolência os faz vestir-se de trapos. Ouve teu pai, que te gerou, e não desprezes tua mãe, quando vier a envelhecer. Compra a verdade, e não a vendas; e também a sabedoria, a instrução e o entendimento. Grandemente se regozijará o pai do justo, e o que gerar um sábio, se alegrará nele. Alegrem-se teu pai e tua mãe, e regozije-se a que te gerou. Dá-me, filho meu, o teu coração, e os teus olhos observem os meus caminhos. Porque cova profunda é a prostituta, e poço estreito a estranha. Pois ela, como um salteador, se põe à espreita, e multiplica entre os homens os iníquos. Para quem são os ais? Para quem os pesares? Para quem as pelejas? Para quem as queixas? Para quem as feridas sem causa? E para quem os olhos vermelhos? Para os que se demoram perto do vinho, para os que andam buscando vinho misturado. Não olhes para o vinho quando se mostra vermelho, quando resplandece no copo e se escoa suavemente. No fim, picará como a cobra, e como o basilisco morderá. Os teus olhos olharão para as mulheres estranhas, e o teu coração falará perversidades. E serás como o que se deita no meio do mar, e como o que jaz no topo do mastro. E dirás: Espancaram-me e não me doeu; bateram-me e nem senti; quando despertarei? Aí então beberei outra vez. A bebida alcoólica começou muito cedo. Em minha casa, nos finais de semana, meu pai tomava cerveja, vinho ou caipirinha, esta menos frequente. Minha avó achava que criança não pode passar vontade, então misturava o vinho ou a cerveja com água e açúcar e nos dava para experimentar. Quando meu pai fazia caipirinha, eu costumava chupar os pedacinhos de limão amassados.
Aos
onze anos, 1961, creio, fui ajudar um ex-colega de trabalho de meu pai,
que tinha uma mercearia e bar. Era um sujeito analfabeto, turrão
e seu filho, já adulto, que o auxiliava no negócio, sofreu
uma enfermidade grave que o afastou do trabalho por vários meses.
O
combinado era eu ajudar em trabalhos leves e fazer as anotações
nas cadernetas, muito utilizadas naquela época, mas, na verdade,
eu ficava a maior parte do tempo sozinho, atendendo a freguesia, inclusive
de bebidas, no balcão e vim a conhecer viciados em todos os tipos
de drogas.
Foi
lá que descobri um licor, muito doce, de nome Fogo Paulista. Quando
fui servir uma dose para alguém, lambi a gotinha que ficou no meu
dedo, daí resolvi experimentar. Naquele dia eu tomei o primeiro
fogo da minha vida.
Lá
eu passei também a experimentar outras bebidas, de leve...
Meus pais sempre nos alertavam para o perigo das drogas, mas bebida e cigarro não eram considerados “drogas”. Meu pai usava!
Um
de meus amigos da infância, ex-vizinho, quase um irmão, que
havia se mudado para Guarulhos, voltou à nossa turminha e vivia
nos contando das “coisas que aprendera”. Sabia como bater
carteiras, conhecia a maconha e até trouxe uma vez para que eu
experimentasse, porém não gostei. Eu tinha aprendido que
droga não prestava.
Esse
“amigo” me “ajudou” a abandonar a Jesus.
Aos
treze anos, à época da Jovem Guarda, comecei a “curtir
a vida”. Não perdia um “bailinho” nem a chance
de “tomar alguma coisinha”, Tomava algo para “desinibir”,
não que eu fosse inibido. Era um jeito bonito de falar.
Aos
poucos, já era uma bebida mais forte que a outra em doses cada
vez maiores e já não gostava de ir a festas ou programas
em que não houvesse bebidas...
Aos poucos, eu fui mudando... Aos poucos, as minhas amizades foram mudando... Aos poucos, os meus sonhos e interesses foram se acabando...
O
álcool, que antes era consumido apenas nos finais de semana, passou
a ser diário. Já não passava um dia sem beber algo
e cada dia bebia mais.
O discurso até que continuava, mas ficava só no discurso.
Nas
reuniões familiares eu nunca estava presente. Você iria me
achar no boteco. Livro na mão, bebida no copo, cigarro aceso.
O
cigarro era outra dependência terrível. Sabe-se hoje que,
à época, a indústria do tabaco adicionava mais nicotina
e alcatrão no cigarro para aumentar a dependência. Quando
comecei a fumar, aos doze anos, fumava poucos cigarros e dos mais fracos,
ou “chiques”, mas, com o passar do tempo, fui aumentando o
número de cigarros fumados por dia, cheguei a fumar sessenta cigarros
diários e cigarros cada vez mais fortes. Passei a fumar os sem
filtro, para tentar satisfazer o vício, mas não adiantava.
A
respiração era difícil; a tosse, constante.
O
dinheiro era gasto nesses três “pilares”: bebida, cigarros
e jogo.
O
trabalho deixou de ser importante e assim eu ficava sem dinheiro, bebendo
“fiado”, com dificuldades para pagar... Começavam os
pequenos furtos de dinheiro em casa.
Os
estudos, eu recomeçava para abandonar novamente.
A
bebida já descia amarga, muitas vezes causava vômito, mas
eu tinha que beber. Era obrigado a beber.
E
quando mamãe me pedia:
-Elio... Por favor... Não beba hoje!
Eu
respondia que não iria beber... Que estaria presente, sim, no almoço
ou reunião da família, em casa, ou na casa de um de meus
irmãos casados.
Na
verdade, nem eu mesmo acreditava naquilo. Até desejaria ir, mas
sabia que não conseguiria. Acabava no boteco!
O
bar acabou sendo o meu dia-a-dia. Passava mais tempo nos bares do que
em casa ou em qualquer outro lugar.
Houve
fases em que me embebedava e dormia. Acordava ainda bêbado, “tomava
mais uma ou duas” e voltava a dormir. Dia e noite bêbado,
sem controle, sem forças, sem projetos, sem vergonha.
—
O
BÊBADO CONHECIDO
Costumava ficar sentado “lendo” um livro e bebendo, à mesa de um bar, que também era ponto de drogas e houve ocasiões em que a polícia chegou, com armas pesadas, dando ordem para que todos encostassem as mãos na parede, acima das cabeças e revistou um por um. Comigo ninguém mexeu. Me ignoraram!
Até
eles sabiam que eu era apenas um bêbado qualquer.
Todos
concordavam que eu já não tinha jeito.
DECEPÇÃO
é o que eu era então.
—
A família não desistiu de mim. Eu é que a abandonei, aproximadamente três anos depois que mamãe morreu. Então já estava totalmente dominado pelo álcool, fumando como um desesperado, incapaz de produzir qualquer coisa útil.
Sou
o quinto filho de uma família de sete. Minha irmã, a única
menina, a caçulinha, é quatro anos mais nova que eu, enquanto
o primogênito é nove anos mais velho.
Meu
pai, Emílio Carlos, primogênito de sua família, era
comunista de carteirinha (me envolvi fundo nisso). anti religioso, livre
pensador, autodidata, operário especializado.
Nasceu no interior de São Paulo, filho de imigrantes. Posteriormente anuiu ao espiritismo kardecista, através dos livros que eu levava para casa.
Minha
mãe, Encarnação, era a caçula e a única
evangélica entre seus irmãos. Era Sargento do EXÉRCITO
DA SALVAÇÃO, de que participava desde os sete
anos de idade, pois, em 1930, quando morava no bairro do Braz, em São
Paulo, os “oficiais” a “adotaram”. Para onde fossem
a levavam junto e seu pai permitia, pois era em uma época de grande
escassez e meu avô via neles pessoas boas e que tinham boas coisas
a ensinar.
Ela
dirigiu por muitos anos um trabalho evangelístico, em minha casa,
a “Liga do Lar”, destinado às Senhoras da vizinhança.
Uma tarde por semana se reuniam. Lá cantavam, tomavam chá
com biscoitos ou bolo, havia um momento de reflexão e recebiam
cursos de culinária, bordados, pintura, etc. além da assistência
social prestada àquelas famílias.
Era
comum vê-la, nos momentos de folga, sentada em sua cadeira de balanço,
na sala, lendo a Bíblia Sagrada.
Conversava
muito conosco, e administrava o lar.
—
AVÓS
Meu avô paterno, Carlos, primeiro de oito filhos, sueco, ateu convicto, agrimensor de profissão, morava no interior paulista, fazia medições no sertão. Ao final de alguns trabalhos, passava temporadas conosco em São Paulo e quando isso acontecia, eu era seu companheiro constante.
Com
ele aprendi a jogar damas, e com ele eu ia ao bar, onde ele “tomava
uma cervejinha”, enquanto eu bebia um guaraná. Ele me falava
da política e contava histórias do sertão.
Ele
vivia separado de sua esposa, a
Vovó Maria, uma dinamarquesa séria, de formação batista, que morava no interior do Paraná com um dos filhos, solteiro à época. Ela raramente ia São Paulo e, durante minha infância, foram poucas vezes que a vi. Dela não há muito que eu possa falar, a não ser depois que veio de mudança para Osasco, quando o meu tio se casou. Aí eu já tinha uns dez anos, acho! Meus avós maternos, espanhóis, participaram de quase todos os momentos de minha infância, pois moravam próximos e, quando não, vinham constantemente à minha casa. Estavam sempre presentes e eram bênção em minha vida.
Ele,
Francisco e ela Ângela, vieram como imigrantes para a lavoura e,
por morarem em colônias, nunca precisaram falar o português.
Para nós, eram apenas o Abuelo e a Abuela.
O
abuelo era Kardecista e dele eu herdei os livros da codificação
espírita. Baixinho, sério, mas bem-humorado, vivia contando
as estórias dos cavalos que ele amansava e das fazendas onde trabalhou...
Aposentou-se como jardineiro da Prefeitura de São Paulo.
A
Abuela era de uma família católica da Espanha. Tinha um
sem número de parentes padres e freiras, segundo nos contava, mas
ela não frequentava igreja nenhuma.
—
A FUGA
Meu relacionamento com meu pai piorava sempre, devido à dependência do álcool. Além do que eu bebia no bar, tinha uma garrafa debaixo da pia e mais uma ou duas escondidas em outros lugares. Aos quarenta e um anos, início de 1992, sai sem rumo e sem rumo vivi por algum tempo. Não disse a ninguém o que eu ia fazer. Vendi a linha telefônica que servia minha família, peguei tudo que era meu e saí.
Saí
magoado... Saí magoando.
Andei
fazendo alguns pequenos trabalhos, mas nada firme.
Dormia em hotéis ou pensões e, quando já não tinha dinheiro, dormia onde o sono me pegava.
Quando
queria fumar, fumava o que achava no chão. Se alguém, à
minha frente, jogava um cigarro, eu o pegava ainda aceso e continuava
fumando.
O
que restava de dignidade perdi nessa época.
Praticamente
tudo o que eu tinha de roupas e objetos foi ficando retido em hotéis
e pensões em que eu me hospedara e já não tinha com
que pagar.
Vez
por outra, tomava alguma bebida tão ruim, que ficava intoxicado,
sofria vômitos, por vários dias, a ponto de não poder
engolir sequer a saliva.
Não
raro, quando a fome batia, eu comia folhas ou sementes. Aprendi o sabor
delas e até gostava de algumas...
Você conhece a parábola do filho pródigo? Comendo o que aparecia?
SOLITÁRIO,
DERROTADO, PERDIDO, LARGADO eram meus nomes.
Nessa
época, eu tinha uma porção de nomes... Mas, nome
para quê? Ninguém me chamava para nada...
—
Então
eu conheci o pior do que passei, e não creio que haja sentimento
pior: Não ter para onde voltar, não ter ninguém esperando...
Sem porto, sem rumo, sem alegria, sem esperança, sem sonhos... Qualquer lugar era lugar de parar. Qualquer lugar era ruim. Isso já não importava. Fosse onde fosse eu não tinha ninguém!
Mesmo
nessa época eu fiz alguns “amigos”, pessoas que estavam
no mesmo barco que eu e também não viam saída.
Nesse
tempo, eu olhava para os moradores de rua, que viviam em “tribos”
mas não tinha coragem de me aproximar. Eu não era um deles
e não queria ser um deles. Estavam em pior situação
do que a minha, pois eu ainda tinha consciência do buraco em que
estava e sabia que existia coisa melhor que aquilo, e eles nem isso sabiam.
Em
alguns momentos até os invejava, pois eles tinham um ao outro,
a amizade, a convivência, enquanto eu estava sozinho.
Quando estava muito frio, se reuniam em volta de uma fogueira e dividiam o pão (quase sempre embrulhado em jornal velho!) e a cachaça, que passava de mão em mão, de boca em boca... Cheios de baba!
Os
dias passavam e eu mais me desesperava, até que resolvi pedir a
Deus a sua misericórdia. Não que eu acreditasse que Ele
fosse se importar comigo, pois eu era apenas mais um alcoólatra
perdido no mundo, um mundo com bilhões de pessoas...
É!
Deus não ia me ouvir! Ele tinha mais o que fazer. Mesmo assim eu
chorei diante dele, pois eu precisava chorar para alguém.
DESESPERADO era meu nome.
—
Um
dia, estando em Presidente Prudente, ouvi pelo rádio uma entrevista
que me chamou a atenção: Eram dois jovens contando sobre
sua recuperação da dependência química, através
de uma instituição chamada Esquadrão da Vida, que
tinha filial naquela Cidade, com escritório na área central.
Anotei o endereço e fui para lá no dia seguinte perguntar
como eu poderia receber o tratamento. Talvez eu pudesse me recuperar e
me levantar novamente. Talvez fosse a solução. Fui informado
de que precisaria vir a Marília (anotei os dados), para começar
o tratamento, mas sem muitas esperanças de conseguir. Resolvi tentar.
Seria a última tentativa.
Se
falhasse...
A
idéia de suicídio ganhava corpo dentro de mim.
—
Eu
precisava chegar a Marília o mais depressa possível.
Nessa
época eu ainda tinha alguns “tesouros” comigo. Ferramentas,
como alicate, chaves fixas, de fenda, etc. Tinha também um molinete
japonês e uma varinha telescópica que ainda valiam alguma
coisa, mas quem iria comprá-la de um bêbado? Todos iriam
achar que era coisa roubada! Ainda assim, montei a vara com o molinete,
completinho e saí para oferecer às pessoas que visse na
rua. Talvez conseguisse o dinheiro da passagem...
Ainda
me lembro. Um sujeito gordo, negro, que estava em uma esquina. Devia trabalhar
por ali, pois já o vira antes. Logo que lhe ofereci o molinete,
ele tirou o dinheiro do bolso, mais que o dobro do que eu precisava para
a viagem. Foi a melhor experiência que eu já tive em vendas.
Que
Deus o abençoe, cidadão anônimo!
—
Comprei a passagem para aquela noite e, com o dinheiro que sobrou, comprei uns maços de cigarro do mais forte, que eu fumava, comi alguns torresmos e outros salgados (cheiravam tão bem...) e tomei todas as cachaças que pude. Fiquei lá perto da rodoviária, tentando me manter acordado até que chegasse a hora do embarque.
—
Foi
assim que cheguei a Marília.
Desci do ônibus com aquele gosto terrível, na boca, às três e meia da manhã, zonzo, em um lugar que eu não conhecia, onde nunca havia estado. Deixei minha sacola, uma sacola de lona, xadrez, com uma das alças arrebentada, no guarda-volumes da rodoviária e perguntei sobre como chegar ao bairro Jóquei Clube. Informado, rumei para o terminal de ônibus urbano, mas, no caminho, descobri ainda dois botecos abertos, e aproveitei do dinheirinho que ainda tinha para “tomar mais algumas”.
Atolei
o pé, como dizem por aí.
Fui
para o terminal de ônibus urbano e, para chegar, atravessei a linha
do trem. Então se firmou a idéia: Se não conseguisse
minha vaga no Esquadrão da Vida, eu sabia para onde ir...
Eu voltaria à linha do trem... Ia acabar por ali. Suicídio era em que eu pensava.
Às
sete e meia da manhã resolvi ligar para perguntar como chegar lá
e o Osni me atendeu. Foi a primeira pessoa com quem conversei algo útil
em Marília.
Ele
me disse que eu precisaria marcar uma entrevista, que seria necessário
levar algum material, objetos pessoais... Achei que não ia dar.
Eu não tinha mais nada para oferecer, a não ser uns vinte
reais que ainda sobravam.
Já
ia agradecendo, dizendo que não se preocupasse que eu daria outro
jeito, quando ele falou:
-Não
faça nada. Venha para cá agora mesmo!
Foi
Deus quem tocou no seu coração para falar aquilo. Eu não
havia lhe dito nada sobre o suicídio. Foi Deus quem o avisou.
Obrigado,
Senhor!
—
NO ESQUADRÃO DA VIDAVirei “SEU ÉLIO”
Cheguei
ao Esquadrão já com quarenta e dois anos completos. Era
dia vinte e nove de Julho de noventa e dois, às nove horas da manhã,
totalmente bêbado, pois não parara de beber desde que peguei
o dinheiro e há dias não fazia uma refeição.
Fiquei sentado no escritório, esperando passar a bebedeira, até
três ou quatro da tarde, mas a bebedeira não passava e eu
fui recebido mesmo assim; Foi ordem de Deus, hoje eu sei!
O
último cigarro que fumei foi no banheiro do escritório da
casa de recuperação. Nunca mais fumei!
Tomei
um ótimo banho (água quente, sabonete, toalha limpa...),
comi o famoso sopão com muita vontade! Na hora de dormir, dormi,
até o dia seguinte, em uma cama macia, limpinha, com cobertor e
tudo. Aquele havia sido o pior inverno da minha vida, mas agora já
não sentia tanto frio.
—
A
minha situação mudou completamente. Para começo de
conversa, me chamavam de “Seu Elio” e me tratavam com amor,
com carinho.
Comida da melhor, cinco refeições por dia.
Os
estudos bíblicos é que me complicavam um pouco, pois eu
conhecia muito bem a Deus conforme o kardecismo ensinava. O “Deus”
dos crentes era muito água-com-açúcar, simplista
demais, uma coisa muito esquisita para que eu pudesse entender.
Eu
conhecia, de nome, uma porção de “espíritos”
importantes, “de luz”. E sabia também que a mente humana
é muito poderosa, tem uma capacidade enorme... Eu tinha aprendido
a fazer uma porção de coisas no curso de parapsicologia.
Já exercitara aquilo, também.
Pirâmides?
Energia das formas? Claro. Eu sabia muito sobre aquilo. ÓVNIS?
Eu não tinha visto, mas não tinha a menor dúvida
que existiam... Eu conhecia por fotos, vídeos, relatos... Conhecia
bastante a respeito!
O
Edí, gaúcho, estagiário, sempre me dizia:
-Aceite a Jesus, Seu Elio.
Onde
já se viu essa história de aceitar a Jesus? Ele era um espírito
de luz, muito adiantado. Não existia isso de aceitar. Ele era e
pronto! Mas... Isso de ele me perdoar todos os pecados, eu não
ter que pagar mais nada... Era impossível. Imagine só! Um
Deus pessoal... Não sabiam da lei de Causas e Efeitos?
Definitivamente,
eu dizia:
-Crente
era bobo, mesmo...
Continuei o meu tratamento naquele lugar. Ganhei amigos, pessoas que vinham
conversar comigo, que me honravam, que não ficavam perguntando
coisas. Isso era muito bom.
Tudo
ia muito bem, porém, o meu coração estava cada vez
mais apertado pela culpa de ter abandonado o meu pai e minha irmã,
principalmente, além dos outros irmãos, já casados.
A família sempre fora muito unida. Tudo era motivo para se estar
junto, compartilhar... Pai, irmã, irmãos, cunhadas, sobrinhos,
primos... Família! Eu havia jogado fora tudo o que de mais valor
já tivera...
Os
dias iam passando, eu ia me desintoxicando, sentindo-me fisicamente mais
forte, porém a mente... Não ia dar certo! Eu não
via futuro plausível.
ESTAVA
DEPRIMIDO!
—
Pensava em minha vida dia e noite e não achava solução, até que naquela madrugada me levantei, fui à capela interna, onde me ajoelhei chorando e orei assim:
-Jesus;
Se você é do jeito que esses crentes estão falando
e não do jeito que eu conheço, então vem. Por favor!
Eu preciso de você!
-Tudo o que eu tentei fazer deu errado. Tudo o que eu comecei se perdeu. Tudo o que eu aprendi não valeu nada. -Sei que tenho agido de forma que te desagrada, mas eu peço o teu perdão. Me perdoa, se isso é possível e me mostra como você é, de verdade...
—
Como uma explosão!... Uma explosão de amor! Isso é tudo o que senti naquele momento. Senti como se o MAIOR AMOR do universo tivesse me pego no colo, me abraçado, me acariciado, me afirmando que eu estava perdoado.
As
lágrimas se multiplicavam, escorriam pelo rosto. Eu estava chorando
de uma forma que nunca chorara antes. Era arrependimento, era amor, era
esperança, era alegria, eram tantas coisas boas que vinham com
aquelas lágrimas. Inexplicável!
Era
o sol surgindo após a tempestade. Era a presença de Deus!
Acabou
o medo, acabou a depressão, esqueci a preocupação,
esqueci as mágoas...
Nada mais era capaz de me machucar. Nada mais era capaz de me fazer desistir. Sabia que nada mais iria me afastar da fonte de todo o amor que eu estava sentindo.
Silenciei,
naquele momento maravilhoso, numa entrega de corpo, alma e espírito.
Aquilo
era o nascer de novo...
FOI
TREMENDO!
ERA
A GRAÇA! ERA DE GRAÇA!
Jesus
não me acusava de nada. Sentia apenas o seu amor me envolvendo.
Não
sei quanto tempo durou aquilo, mas acordei leve, feliz e me inseri na
rotina do dia. Vez por outra eu sentia as lágrimas descerem do
meu rosto, enquanto eu dizia palavras de amor a Jesus.
Eu
sentia a sua presença de forma grandiosa, entendia que Ele tinha
o melhor para mim e queria que eu aceitasse.
Fui chamado ao escritório, para uma entrevista com o Pastor Cláudio Correia de Souza, que auxiliava no Esquadrão e ali entendi várias coisas que eu não sabia.
Orei
com ele, confessando os meus pecados, pedindo que Ele escrevesse o meu
nome no Livro da Vida. Renunciei a todo o meu envolvimento com as trevas.
Isso
fez toda a diferença em minha vida. Isso é que permite que
eu me conserve em pé.
Não
sou um “adicto”, em abstinência por mais um dia, mas
um homem liberto de todo o vício pelo poder do Senhor Jesus.
FIM:
Acabou-se
a história de derrotas, mentiras, medos, frustrações!
Estava começando a história do novo Élio. Agora o meu nome era FELIZ, me sentia amado de Deus, cuidado por Ele. Sabia-me pronto para lutar e vencer em cada momento e tenho enfrentado lutas, cada uma a seu tempo.
Eu,
que lera milhares de livros de todos os tipos, sobre quase todos os assuntos
e religiões, nunca tinha lido a Bíblia, a não ser
trechos limitados, passei a lê-la com avidez. Era um universo totalmente
novo.
A
“crítica” tipo de filtro, que antes me impedia de entender
a Palavra de Deus foi tirada, e eu comecei a beber aquelas mensagens como
água limpa e fresca, depois de ter andado no deserto por tanto
tempo.
Lá
eu li: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração
creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo
e eu não duvidei mais disso, porque já sentia a salvação.
(Romanos 10:9)
Se
confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar
os pecados, e nos purificar de toda a injustiça. (1ª
João 1:9)
O
Salmo 116:12 diz: Que darei eu ao Senhor, por todos os benefícios
que me tem feito e isso se gravou firme em minha mente. Nunca poderia
esquecer os benefícios do Senhor.
Hebreus
9:27 e 28 E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez,
vindo depois disso o juízo, assim também Cristo, oferecendo-se
uma vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez,
sem pecado, aos que o esperam para salvação.
Deuteronômio
10:10-12:10 Não se achará no meio de ti quem faça
passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador,
nem agoureiro, nem feiticeiro, nem encantador, nem quem consulte um espírito
adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos; pois todo
aquele que faz estas coisas é abominável ao Senhor, e é
por causa destas abominações que o Senhor teu Deus os lança
fora de diante de ti.
Levítico 19:31 Não vos voltareis para os que consultam
os mortos nem para os feiticeiros; não os busqueis para não
ficardes contaminados por eles. Eu sou o Senhor vosso Deus.
Eclesiastes 9:10 Tudo quanto te vier à mão para fazer,
faze-o conforme as tuas forças; porque no lugar dos mortos, para
onde tu vais, não há obra, nem projeto, nem conhecimento,
nem sabedoria alguma.
Agora
eu entendia a mensagem do Salmo 23: O Senhor é o meu pastor,
nada me faltará!
Eram
tantas as passagens que Deus me mostrava de forma especial!
—
A Assistente Social, Betinha (guarde bem esse nome), quando me entrevistou, instou-me de escrever para minha irmã e meu pai. Eu titubeava. Achava que não ia dar certo, mas pela insistência, resolvi tentar. Era o mês de Agosto de 1992.
Escrevi,
mas logo que foi postada a carta eu fui transferido para a fase seguinte
de minha recuperação, em um sítio maravilhoso, em
Presidente Prudente, cidade onde eu ouvira falar do Esquadrão.
Lá eu fiquei por seis meses. Um tempo maravilhoso na presença
de Deus.
Acontece
que quando minha irmã recebeu minha carta e respondeu com presteza,
essa resposta não me alcançou em Marília. Eu havia
acabado de ser transferido e, por um engano de alguém, a carta
ficou arquivada em minha pasta, ao invés de ser-me enviada.
Sem
aquela resposta, eu achava que tinha sido em vão escrever, mas
sei hoje que isso era necessário para o meu tratamento e fortalecimento.
Nesse tempo aprendi a depender somente de Deus e não de pessoas,
por mais amadas que fossem.
Uma
coisa me preocupava: Eu precisava acertar a situação com
meu pai. Eu o havia abandonado sem me despedir. Eu o ferira muito, o decepcionara...
Eu precisava pedir-lhe perdão, porém, como fazer?
Com
certeza, Deus proveria o encontro.
—
O sítio do Esquadrão lá em Prudente é um lugar maravilhoso localizado a, aproximadamente, três quilômetros do centro do distrito de Montalvão.
Lá
eu comecei a enfrentar grandes batalhas e a ouvir a voz de Deus de forma
clara e audível.
Os
momentos que passei ali, as dificuldades, as vitórias, as amizades,
não caberiam aqui e não sei se conseguiria contar...
Local
amplo, boas instalações, uma boa porção de
terra cultivável, criação de galinhas poedeiras,
frangos de corte, roça, uma horta muito bem cuidada, enfim, o trabalho
não faltava.
Há
uma represa que, à época, estava cheia de tilápias
e, há mais de um ano, ninguém pescava. Aquele era o meu
lazer... Aos sábados, das 13h às 17h 30min, lá estava
eu, caniço na mão, tirando grandes tilápias que fritávamos
nos domingos.
Era
bom demais.
Nas
noites de domingo, visitávamos as igrejas, das várias denominações,
no centro da cidade. Tínhamos que caminhar até Montalvão
para pegar o ônibus. Na volta, novamente a pé até
o sítio, caminhando à luz da lua, quando havia lua.
Eram
momentos maravilhosos, para compensar as dificuldades.
Imagine
um lugar lindo desses, onde conviviam pacificamente pessoas de várias
origens, culturas, ideais... Todas vindas de situações delicadas,
devido à dependência química. Pessoas vindas de lares
e ideais desfeitos, desemprego, dívidas, revoltas...
Pode
parecer que era um barril de pólvora, mas não! A casa era
dirigida pelo Antonio Carlos Sobreira, uma pessoa que vivia na dependência
de Deus e que sabia tornar em exemplos edificantes todas as situações
difíceis que pudéssemos atravessar ou presenciar.
Nessa
fase, estávamos em aproximadamente quinze recuperandos, de quase
todas as partes do Brasil. Tinha baiano, carioca, gaúchos, maranhense,
mato-grossense, mineiro, paranaense, paulistas, rondonienses...
Todos
buscando a recuperação.
—
Lá, entre outras atribuições, eu era o “benceiro”, ou seja, a pessoa que cuida da “benção”, o lugar onde se guardavam as roupas e calçados que podiam ser doados aos internos que necessitassem.
Uma
das atribuições do “benceiro” era lavar e passar
toda a roupa de cama da casa, além de verificar a ordem nos dormitórios,
para que nada ficasse fora de lugar.
Cada
interno era responsável pela arrumação de sua cama
e armário. Havia escala de trabalho para todas as áreas.
Uma
ocasião, sem que eu percebesse como ou quando começou, o
relacionamento entre os internos começou a se deteriorar. Não
havia briga ou inimizade, apenas a situação ia se complicando.
Alguns
internos passaram a agir em desacordo com as normas, porém eu continuei
a levar a sério minha estada lá. Eu não queria mais
voltar a viver longe de Deus, e ainda não estava em condições
de sair dali.
Não
procurei denunciar, nem fiquei criticando. Apenas falei o que pensava
quando fui consultado e disse que não estaria com eles.
Havia
certa luta interna para definir lideranças e isso estava fora de
cogitação. Eu não pretendia liderar ninguém
e nem aceitar liderança que não viesse da direção
da casa e isso fez com que me vissem como um problema.
—
O relacionamento foi se complicando, até que, naquela sexta-feira, enquanto rastelava o capim que havia sido tombado na véspera, eu pensava comigo mesmo em como resolver aquela situação.
Estava
ficando insuportável. Por mais que eu fizesse para me manter alheio
àquilo, eu estava envolvido.
Não
poderia abandonar aquela casa, sob o risco de voltar a cair na bebida
e na vida suja de que tinha saído meses antes. Era complicado e
eu não sabia mais o que fazer.
Repentinamente,
veio à minha mente uma voz clara, que não deixava dúvidas:
-Por
quê você não ora?
Assustei-me.
Porque não pensara nisso antes? Porque é que o próprio
Deus tinha que me lembrar disso?
Ajoelhei-me
ali mesmo, sozinho, e derramei o coração diante de Deus.
Falei o que eu sentia. Falei que Ele sabia que eu procurava fazer o melhor,
mas que não estava conseguindo nada. Que não poderia viver
como havia vivido antes, agora que conseguia pensar claramente... Falei
que precisava da Sua ajuda e que estava impotente para resolver aquela
situação. Citei um a um todos os problemas que atravessávamos.
Naquele
momento ouvi novamente a voz de Deus me dizendo:
-Não
tenha medo. Crê, somente!
(Na
Bíblia há um versículo onde Jesus diz essas mesmas
palavras, desta vez a Jairo, quando lhe disseram que sua filha estava
morta. Jesus o animou e ressuscitou a sua filha.)
Não
havia ninguém a menos de cem metros de onde eu estava. Levantei-me,
ainda com lágrimas nos olhos e agradeci a Deus.
Quando
a sirene soou avisando do termino da jornada, subi para o banho e demais
atividades, já bem tranquilo.
Temer
o quê? Jesus é comigo!
No
domingo, pela manhã o Sobreira, coordenador da casa, chegou para
a EBD (Escola Bíblica Dominical) e, diferente do que normalmente
fazia, nos disse que falaria conosco sob as árvores. Cada um pegou
uma cadeira, seu material e lá fomos nós para uma sombra
deliciosa.
Sentados
em círculo, ele fez a oração inicial e começou
a exortar o grupo, dizendo tudo aquilo que eu havia falado para Deus,
entre lágrimas.
E ele estava usando as mesmas palavras que eu usara!
Falou
sobre tudo o que estava acontecendo. As disputas, as distorções
das ordens, a falta de dedicação, etc., etc. e terminou
aquela palavra com a aplicação de disciplina àqueles
que ele achava que mereciam. Foi definindo o que cada um faria ou deixaria
de fazer, em decorrência de sua conduta. Eu estava maravilhado.
Sobrou
disciplina para quase todos. Exceção feita a mim e mais
um interno.
Como
é que aquilo foi acontecer, poucas horas depois de eu ter falado
com Deus? Coincidência, você diria?
Não
havia ninguém perto de mim, quando eu falei aquelas palavras, além
de tê-las dito baixinho, entre lágrimas. Mesmo que alguém
estivesse ouvindo, certamente não conseguiria entender o que eu
dizia.
Era
Deus, mostrando o Seu grande amor e o quanto Ele se importa conosco. Ele
sabe dizer:
-Eu
te amo, Eu te ouço, Eu te ajudo.
A
situação se normalizou, voltou à paz e fiquei ali
até completar os seis meses.*
*(À
época, o período de tratamento era de um ano, sendo 90 dias
em Marília, 180 em Prudente ou Pompéia e mais 90 em Marília,
como “estagio probatório).
—
Nos primeiros dias de Janeiro de 1993 foi que a carta abençoadora me chegou às mãos, como um presente do céu. Minha irmã falava da alegria em saber que eu estava sendo cuidado, me recuperando e me animava a prosseguir.
Bendito
seja, sempre, oh Deus.
Obrigado
pela vida da Olga, irmãzinha amada, sempre amiga! Sempre alguém
com quem eu podia abrir o coração, em todas as horas. Ela
estava emocionada, feliz, com a minha decisão de procurar ajuda.
Me deu notícias, me motivou a continuar.
Foi
um presente maravilhoso, aquela carta.
—
Chegou a hora de voltar a Marília para o estágio final do tratamento. Seriam mais noventa dias, durante os quais eu teria o encargo de sair sozinho para executar alguns trabalhos, como a entrega de correspondências, serviços bancários, acompanhar alunos novos em saídas necessárias, etc.
Era
um tempo para o interno aprender a andar sozinho, sem depender de drogas,
ganhar autoconfiança.
Nessa
época já comecei a pedir a Deus que me preparasse um lugar
para viver. Eu gostava de Marília. Pensava continuar por aqui.
Durante
minhas saídas a trabalho aproveitava para procurar emprego.
Contabilidade,
auxiliar de escritório, faxineiro, caseiro de chácara ou
sítio, seja lá o que fosse. Eu pretendia ficar por aqui,
mas não aparecia nenhum trabalho, ninguém disposto a abrir
uma porta, a confiar em um recuperado.
Continuei
orando.
À
medida que os dias passavam, aproximando o final o meu período
de tratamento, fui limpar o arquivo geral e deixei aquilo como eu entendia
que deveria ser. Removi todas as pastas, afastei armários, limpei
tudo como era necessário e comecei a reorganizar, refazendo as
caixas, etiquetando, arrumando...
Eu
já trabalhara em contabilidade e administração tanto
tempo que conhecia muito bem aquilo.
O
responsável pela casa gostou daquele serviço e me convidou
a continuar auxiliando nos trabalhos do escritório. Passei a digitar
fichas e outros trabalhos e, ao final do meu plano de recuperação,
continuei a trabalhar ali como voluntário por algum tempo.
Trabalhava
no horário de expediente e continuei a morar na instituição.
Eu
gostava da Igreja aqui e fui batizado nas águas do Rio do Peixe,
no dia primeiro de Agosto de 1993, pelo pastor José Rosa da Costa,
muito amado amigo.
—
Já passara um ano e meio desde que eu saíra de casa. Já me comunicava por carta e telefone com minha irmã. Ela inclusive veio a Marília, me visitar e, após isso, passou a me abençoar com uma remessa de dinheiro mensalmente. Eram dez por cento de um salário mínimo, cerca de R$ 12,00, que ela me enviava pela conta bancária do Pedro, amigo amado, funcionário do Esquadrão.
Eu
usava esse dinheiro para me locomover por Marília, pois voltara
a cursar o ensino supletivo.
Tudo
se firmava. Tudo se resolvia.
Eu
ainda sentia a necessidade de fazer uma visita ao meu pai, já idoso,
e pedir-lhe o perdão pessoalmente. Era algo necessário,
de que eu não podia fugir. Orei a respeito e descansei.
Por
mim próprio, não teria condições de resolver
isso. O dinheiro era difícil, as passagens caras... Deixei que
Deus cuidasse disso. Quando fosse a hora, eu iria.
Um
dia soube que haveria uma excursão de evangélicos para São
Paulo, para um evento no Pacaembu. Ônibus fretado, economia de 70%
nas passagens, mas eu não tinha esse dinheiro. Mais uma vez falei
com Deus.
Seria
a oportunidade que eu esperava?
Naquele
dia, o Pedro, sempre brincalhão e bem-humorado, veio me perguntar
se “minha família havia mandado algum dinheiro”, pois
havia um depósito originário de São Paulo. Quando
ele me disse o valor, eu ousei afirmar:
-Não
é meu!
Dessa
vez o valor era muito maior. Quem me mandaria tanto dinheiro?
Achei
que fosse para algum dos demais estagiários e sosseguei, porém
mais tarde a Olga me liga dizendo que meu irmão fizera um depósito
na conta do meu amigo...
Perguntei
se ela sabia o valor e era justamente aquela importância.
Era
um presente de Deus, enviado através do meu irmão. Ele foi
ao banco e lembrou-se de que “o amigo do Elio tinha conta naquele
banco”. Ligou para a Olga, pegou o número da conta e transferiu
um dinheiro muito além do que eu poderia esperar.
Reservei
meu lugar e, na sexta-feira, à noite, embarquei.
Eram
cerca de dez horas da manhã quando cheguei à casa do meu
pai.
Ele
estava na oficina e, quando me viu, ficou sem saber o que fazer. Cheguei
para ele e, da forma que consegui, abracei-o e pedi-lhe o perdão.
Choramos.
Era
um momento de muita emoção, Ficamos ali abraçados
por alguns minutos, deixando as mágoas se esvaírem com as
lágrimas e por isso demorou até que pudéssemos conversar.
Glórias
a Deus por aqueles momentos.
—
À hora do almoço, à mesa, meu pai ainda não confiava em minha recuperação. Não dizia abertamente, mas me estudava em todos os momentos, analisando, buscando enxergar as mudanças.
Anteriormente
eu provara que não era confiável. Chegara a hora de provar
que havia mudado. Teria que conquistar sua confiança novamente.
Ele
abriu uma cerveja, encheu um copo e o colocou perto de mim. Eu olhei para
aquilo e lhe disse que já não bebia. Fiquei constrangido,
mas, conhecendo o gênio forte do Sr, Emílio, sabia que não
era hora de prolongar o assunto.
Passei
a contar-lhes sobre o lugar em que estava, o que fazia, o que pretendia...
À
tarde me despedi, deixando um pouco mais de esperança naquela casa
e saindo mais leve, mais feliz.
Alguns
meses depois, novamente pude ir à sua casa, em visita e lá
encontrei meu irmão mais velho, que reside em Curitiba.
Novamente,
à mesa, meu pai encheu outro copo de bebida e colocou em minha
frente. Era provocação, que eu já conhecia. Orei
em silêncio e ousei dizer-lhe:
-Pai,
a bebida já me causou muito mal e à nossa família;
o Senhor acha que eu devo voltar a beber?
Falei
com o copo na mão e tornei a colocá-lo à sua frente
sem dizer mais nada a respeito. Continuamos a conversa anterior e ele
nunca mais voltou a me oferecer bebidas. Começou a acreditar na
minha recuperação e decisão.
A
partir desse dia, todas as vezes que eu ia a São Paulo e chegava
em sua casa, ele pegava uma sacola e saia “para comprar alguma coisinha”,
mas, na verdade, eu sei, era para falar para os vizinhos e amigos que
o Elio estava bem, estava recuperado!
—
Havia um curso de datilografia, disponível a todos os internos e eu aproveitei para treinar um pouco. Eu já havia trabalhado muito tempo em contabilidade e administração, datilografava muito bem e também havia sido operador-contábil de várias máquinas. Addo, Ruf, Facit, Audit, NCR, entre outras e era bastante ágil. Como passara muito tempo afastado dessa área, resolvi treinar.
A
responsável pela sala era a Betinha, Assistente Social e ela não
entendia muito sobre as máquinas, mas com a apostila, conseguia
resolver os problemas que surgissem.
Com
a minha chegada passei a auxiliá-la. Isso nos aproximou e comecei
a me interessar por ela, muito timidamente, pois não tinha nada
lhe oferecer, mas um dia disse-lhe que, quando eu saísse do Esquadrão,
eu a procuraria.
Em
Outubro de 1993 ela se desligou do Esquadrão e foi trabalhar na
Prefeitura de Marília, pois havia conseguido colocação
em concurso público, e passou a atender na Secretaria do Bem Estar
Social.
Ainda
assim nos víamos em alguns eventos, mas eu ainda não sabia
o que fazer. Era voluntário, não tinha salário, nem
recursos para nada... Não daria para pensar em namoro.
Tinha
apenas algum dinheiro, comissão sobre vendas, que me garantiriam
provisoriamente.
Um
dia, achando que não me acertaria com a Betinha me propus a buscar
um emprego onde fosse possível, para levar avante a vida.
Eu
andava enciumado...
—
Um dos irmãos, com o qual convivi durante a recuperação, me convidou para ir trabalhar com ele e me garantiu lugar para morar em Rondônia.
Passei
a pensar seriamente nisso e comprei uma passagem de ônibus sem data
marcada, planejando a “mudança” para o início
do ano.
Talvez
não fosse o melhor, pois ficaria muito longe para visitar minha
família quando estivesse morando lá, porém eu teria
um trabalho digno, amigos e chance de progresso.
Era
final de Dezembro e eu iria passar as festas no Esquadrão de Prudente
e lá mesmo embarcaria. Quando falei ao Sobreira sobre a viagem,
ele me disse que eu não deveria ir e se dispôs a contatar
alguns empresários conhecidos. Conseguiu-me dois empregos, ambos
com lugar para morar, para que eu pudesse escolher.
Acertei
um deles, uma oficina autorizada de refrigeração, onde trabalharia
como técnico e combinei começar o trabalho no dia 3 de janeiro,
logo que reabrissem.
Estava
feliz e aproveitei os dias que me sobravam ajudando nas atividades da
casa, até o dia do acidente.
—
CULPA
DO CAVALO OU RESPOSTA DE ORAÇÃO?
Naquele
sábado, já anoitecendo, durante a conversa, após
o jantar, vimos que o cavalo estava fugindo para a rua. Talvez a porteira
tivesse ficado aberta, ou ele a houvesse forçado... Só o
vimos escapando.
Subimos
na carroceria do caminhão, um Mercedes 608, que o Esquadrão
dispunha e fomos atrás para trazê-lo de volta.
Quando
o pegamos, foi passada a corda em seu pescoço e, enquanto o caminhão
ia vagarosamente, eu segurava a corda com ambas as mãos. Repentinamente
o cavalo empacou e eu, ao invés de soltar a corda, segurei firme.
Isso arrancou o couro de minhas mãos, que começaram a sangrar.
O
cavalo foi trazido de volta, porém minhas mãos tiveram que
ser enfaixadas e doíam bastante, portanto eu não poderia
iniciar o trabalho na segunda-feira.
O
“patrão” me disse para começar quando pudesse.
Ele estava disposto a me ajudar e eu conhecia bem o trabalho. Havia passado
no teste.
Aproveitando
essa folga forçada, retornei a Marília para buscar as coisas
de menor importância que havia deixado e dar as boas novas aos meus
amigos.
Chegando
à Sede do Esquadrão da Vida encontrei todos os funcionários
reunidos na recepção que me acolheram com muita alegria.
Achei
legal, aquilo, mas só entendi o que estava acontecendo quando o
responsável me perguntou se eu estaria disposto a assumir o lugar
do Osni, pois o mesmo estava saindo para trabalhar com outra coisa. Eles
haviam ligado para Prudente para me convidar, mas eu acabara de sair para
a rodoviária.
Eu
teria um salário mensal, registro em carteira e poderia continuar
morando ali. Dava para começar a sonhar novamente.
Oh,
Glória! Deus continuava cuidando de mim, apesar de mim. Ele sabia
o que era melhor e sempre faz o melhor!
O
trabalho era bom, a Equipe boa, mas eu ainda tinha algumas arestas a serem
tiradas e precisava de um pouco mais de tratamento. Tinha que aperfeiçoar
a paciência, e Deus, em sua infinita misericórdia, colocou
pessoas para me auxiliarem nisso...
Não
era fácil, mas eu precisava vencer mais essa.
Nos
momentos de maior dificuldade eu recorria à companhia do meu amado
amigo, o Pastor José Rosa, que hoje mora no Espírito Santo.
Em sua casa eu tinha liberdade de falar, ou chorar se fosse o caso, ler um bom livro, assistir um jogo de futebol (torcíamos pelo Corinthians) ou simplesmente ficar calado.
Glórias
Deus!
Foi
uma época maravilhosa.
Estávamos Março de 1994. Eu continuava trabalhando, estudando, vivendo em paz e comunhão com Deus e sendo cuidado por ele. Tudo transcorria maravilhosamente, mas ainda faltava alguma coisa... Afinal, o próprio Deus disse que “Não é bom que o homem esteja só...”
—
Começamos a namorar no dia onze de Março de 1994, e já eram 23 horas. Encontramo-nos no terminal de ônibus urbano. Ela vinha do Instituto Bíblico e eu do curso supletivo. Estava quase na hora da saída do seu ônibus quando decidi pedi-la.
Eu
estudava nos horários vagos, éramos de igrejas diferentes...
Parecia difícil até conseguir horários para nos encontrarmos,
mas, na verdade, o difícil foi tomar a decisão. Depois descobrimos
que os impedimentos eram tão pequenos que não atrapalhavam,
e passamos a nos encontrar quase todos os dias.
Já
no início de Abril, feriado em Marília, levei-a a São
Paulo para apresentá-la à minha família. Ela, toda
preocupada, pensando em como seria recebida, foi recepcionada com festa.
Antes
de voltarmos a Marília, meu pai perguntou-me sobre quando seria
o casamento, ao que eu, honestamente, respondi que deveria demorar, talvez,
quatro anos, pois o salário era baixo e seria difícil conseguir
montar uma casa com tudo o necessário.
Era
impossível conseguir casar antes de três anos e meio.
Errei
feio!
Em Mateus 19:26 Jesus fala que o que é impossível aos homens é possível a Deus.
Logo,
pessoas de Marília, amigos e familiares, nos procuravam e prometiam
nos dar algum móvel como presente. Ganhamos, praticamente, todos
os móveis de casa. Percebíamos a direção de
Deus em cada momento.
Valeu
David e Lena, pela força que vocês nos deram!
O
nosso relacionamento era ótimo, o cuidado de Deus, maravilhoso.
Os irmãos de fé tinham prazer em participar conosco, e assim,
dia 1º de Outubro daquele mesmo ano, colocamos as alianças
de noivado, diante de Deus e dos pais da Betinha.
Durante
a fase de nosso noivado, a minha amada sogra entrou em depressão
profunda. Foram momentos dificílimos para a Betinha, que era a
única pessoa a quem sua mãe atendia.
Então,
ela era a enfermeira, a governanta, a filha, a faxineira... Tudo isso,
além de seu trabalho, que já era difícil, e dos preparativos
para o casamento.
Em
Isaias 40:29 está escrito: (Deus) Dá força ao
cansado, e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor
e comprovamos isso.
Procurávamos
uma casa para alugar, mas só encontrávamos dificuldades.
Algumas, muito distantes, outras, aluguel muito caro, outras ainda, sem
condições de morar.
Como
sempre, tínhamos que esperar a ação de Deus.
Já
era Dezembro, a menos de um mês do casamento, quando soubemos de
uma casa em reforma, a cem metros da casa de meus sogros. Fomos conversar
com o proprietário e assinamos o contrato.
Provisão
de Deus, sem dúvida. Precisávamos morar perto, para a Betinha
cuidar da sua mãe até sua total recuperação.
Havia
um pedreiro trabalhando na casa e ele não terminava o trabalho.
Estava assentando piso, sem nenhuma pressa.
No
dia quinze de janeiro, aproximadamente, comprei tinta e comecei a pintar
as portas e janelas, enquanto o pedreiro “concluía”
o trabalho. Na verdade, ele preparava um pouco de massa e ficava conversando
com alguns desempregados, aposentados, desocupados, etc. e não
via a necessidade de terminar a obra.
No
dia dezessete de Janeiro expulsei-o de lá delicadamente.
Limpamos
a casa e começamos a montar os móveis. Ficou linda!
Casamos
no dia 21 de janeiro de 1995, apenas dez meses e dez dias após
o início de nosso namoro.
Glórias
a Deus.
Acho
que, se não expulsasse o pedreiro, teríamos que adiar o
casamento ou morar em algum hotel, indefinidamente.
Depois
do casamento, em várias oportunidades hospedamos o meu pai, que
tinha prazer em passar alguns dias conosco.
Ele
amava a “nova nora” e a transformação na vida
do filho que, afinal, também era um novo filho.
—
Foi uma tremenda chuva... ...De bênçãos!
Meus
familiares, de São Paulo, fretaram um ônibus e vieram. Meu
pai, tios, irmã, irmãos, cunhadas, sobrinhos e sobrinhas,
primos e primas, pessoas amigas... Foi uma grande festa durante toda a
viagem e aqui também, apesar de eu não ter podido participar
do banquete que trouxeram.
Foi
um dia inesquecível, maravilhoso. Igreja lotada. Todo mundo foi
conferir!
Dias
antes do casamento, eu havia prestado concurso para a Prefeitura de Marília
e consegui ótima colocação. Já em Abril comecei
a trabalhar no Serviço de Patrimônio do município,
um trabalho que eu já exercera na iniciativa privada. Gostava do
trabalho e lá fiquei por quatro anos e meio, quando me transferi
para a Secretaria Municipal de Saúde.
No
dia em que completamos um ano de casamento, mudamos para nossa casa própria.
Uma casa popular, com apenas 43 m², sem forro (mandei forrar antes
da mudança), piso de cimento, sem muro, em rua sem asfalto ou sarjeta
e a nove quilômetros do centro da cidade.
Nessa época ainda não tínhamos carro próprio e os horários do ônibus eram escassos. Pode parecer difícil, mas foi uma grande benção em nossa vida. Fomos melhorando a casa à medida do possível. O bairro também melhorou e moramos ali por oito anos, saindo dali no dia 25 de Janeiro de 2004.
—
Vou ter que retornar à época em que namorávamos. A Betinha sempre sonhara ser mãe. Se fosse menina seria a Raquel. Isso eu nunca discuti. Mãe é que sabe das coisas; pai, só apóia!
Após
o casamento começamos a sonhar com um bebê e pedíamos
isso a Deus. Ele sempre suprira todas as nossas necessidades. E, tudo
o que pedirdes na oração, crendo, o recebereis. Mateus
13:22.
O
tempo foi passando e o bebê não vinha. Eu não me preocupava
muito; apenas orava e descansava, mas a Betinha decidiu consultar um médico,
fizemos tratamento, ela tomou alguns medicamentos e o bebê não
vinha.
Passei
a orar pensando em adoção, mas não tinha coragem
de propor isso a ela. Achava que tal idéia teria que nascer no
coração dela. Teria que ser conforme a vontade de Deus.
Um
dia, quando conversávamos, e sempre conversávamos bastante,
ela me falou sobre a inscrição no Fórum, perguntando
o que eu achava...
Oramos de mãos dadas pedindo a direção de Deus e nos inscrevemos para adoção. Preenchermos uma porção de documentos, entregamos uma porção de outros, passamos por entrevistas...
Estávamos
“na fila de adoção”. Talvez demorasse. Era esperar,
mas não tínhamos dúvidas de que Deus faria o melhor.
Em
1999, uma noite, já deitados, a Betinha me diz, emocionada:
-Amor...
Deus me disse que não vai ser Raquel. Vai ser um menino e vou dar-lhe
o nome de Samuel!
Abracei-a
feliz e guardei aquilo no coração preferindo não
prolongar a conversa. Ela seria a mãe e com o coração
de mãe não se discute...
No
domingo de carnaval de 2000, início do mês de Março
houve, na igreja onde servíamos, um Congresso com a presença
do Pr. David Silva, então Ministro de Louvor em Londrina e o templo
estava superlotado. Durante a pregação ele parou, apontou
para a Betinha e disse:
-O
Senhor lhe diz para parar de chorar, pois o que você pediu já
está a caminho!
ALELUIA!
Louvado seja o Senhor!
Quando
entrei no templo para buscar a Bete, alguns irmãos vieram me abraçar,
chamando-me “papai”. Mais uma vez guardei aquilo no coração,
pedindo a Deus capacitação e sabedoria para criar o meu
filho no caminho seguro.
Um
mês após, fomos contatados pelo Serviço Social sobre
a existência de uma criança em Assis cidade próxima
e oramos a respeito, pedindo a Deus a confirmação de que
seria aquela criança. Sem resposta, procuramos aconselhamento com
o pediatra nosso irmão e amigo Dr. Francisco Agostinho e, ao final,
decidimos pelo não. Nosso coração ansiava por isso,
mas não havia direção de Deus.
Parecia que a cada dia se tornava mais difícil, mas tínhamos a promessa e nos baseávamos nela.
Deus não é homem para que minta! (Números
23:19).
Em Janeiro daquele ano eu pedira transferência para a Secretaria Municipal de Saúde, para trabalhar em horário especial em local próximo à nossa casa. Tudo ia muito bem entre nós. Meu horário ficou reduzido a seis horas diárias, basicamente digitação, entre 17:00 e 23:00h, então, pela manhã, eu permanecia um pouco mais na cama após a saída da Betinha para o trabalho.
—
No dia doze de maio, sexta-feira, antevéspera do Dia das Mães, 7h 30min o telefone tocou. Atendi ainda deitado e ouvi a voz emocionada da minha esposa amada:
-Amor...
O bebê chegou!
Pulei
da cama enquanto ela, entre lágrimas, me falava onde ele estava
e então combinei encontrá-la ao lado da criança.
Desliguei,
pus-me de joelhos e orei, agradecendo a Deus por aquele momento e pedi-lhe
então um sinal de que era, aquela criança, o nosso filho;
Pedi, como prova que, logo que a Betinha chegasse junto ao berço,
o bebê lhe desse um grande sorriso.
Em
minutos eu já estava pronto e logo me encontrei com a Betinha que,
toda emocionada, me levou para ver a criança. Um menino lindo!
Muito lindo!
Abraçados,
paramos ao lado do berço, olhando-o, quando ele abriu os olhos,
olhou-me profundamente e tornou a dormir. Quando contei à Betinha
a prova que eu pedira a Deus ela desabou em um choro de alegria. Acontecera
exatamente aquilo que pedi. O bebê havia dado um tremendo sorriso
para a mamãe Betinha.
Agora
éramos pais! Tínhamos um bebezão! Lindo, lindo, lindo!
Dado por Deus, provado por Deus.
-Até
acho que era mais lindo do que eu, quando nasci! Sem exagero!
Peguei-o
no colo e, abraçados os três, oramos ao Senhor agradecendo-o.
Recebemos o bebê de Deus e a Deus o dedicamos naquele momento.
Incrível!
Nunca eu me senti tão pequeno, tão dependente de Deus como
naquele momento, pois até comecei a chamá-lo de Papai-do-Céu.
Correr
atrás dos documentos, conseguir assinatura de juiz, correr ao cartório,
voltar ao juiz, correr para outro lado... Corremos o dia todo, alegres
e felizes.
Todos
nos parabenizavam e procuravam ajudar. Alguns funcionários do Fórum
se atrasaram para o almoço afim de que conseguíssemos acertar
a documentação.
Aleluia!
Oh,
Deus Maravilhoso!
Eram
quase 17 horas quando, com todos os documentos exigidos, buscamos a criança.
Emoção indizível...
“Nossa
gravidez” durou mais de dois anos!
Com
o filhão lindo, passamos no trabalho da Bete, para buscar sua agenda
e todas as colegas queriam conhecer o neném. Afinal, elas queriam
participar daquele momento, pelo qual tinham torcido. Mais emoção;
Haviam preparado uma festa, com muitos presentes para o Samuel. Muitas
coisas, todas úteis. A Betinha chorou de novo e eu também
tive que acompanhá-la nisso! Foi lindo!
Passamos
na casa da tia Lena, ligamos para o Dr. Francisco que nos atendeu feliz
e examinou o bebê, ensinando-nos muitas coisas, como um anjo a nos
apoiar. Só então, fomos para casa.
Em
uma gravidez normal, calcula-se o tempo em que o bebê vai chegar.
Pode adiantar um pouco, mas o bebê já está lá,
conosco, mesmo que ainda não o vejamos. Já em nosso caso,
sabíamos que ele viria e que seria um menino, mas não sabíamos
quando. Havia uma parte do armário cheia de roupinhas de bebê.
A cada dois ou três meses eram lavadas, arrumadas... Só que,
na hora em que o neném chegou, elas precisariam ser lavadas novamente.
Ou alguém acha que a mamãe Betinha ia vestir no filhinho
uma roupinha que não fosse recém-lavada?
A
primeira visita, ainda na sexta-feira, foi da Tia Sonia, outra pessoa
que Deus usou e ainda usa, para abençoar o Samuel.
Naquela
noite o Samuel dormiu em um bebê-conforto, sobre a nossa cama. Nós
também deitamos, mas acho que não conseguimos dormir nada
naquela noite!
No
sábado, cedinho, corri à casa do Floriano para comprar um
conjuntinho de quarto. O berço eu coloquei no carro na hora, o
guarda-roupas chegou só segunda-feira. Montamos um quarto para
nós e outro para o bebê. Ficou lindo.
—
No dia dezenove de maio, sexta-feira seguinte à sua chegada, próximo à uma hora da tarde, ele começou a ter dificuldades de respirar. A Betinha começou a tratá-lo, mas ele não melhorava e nos olhava com aquele olhar de dependência total.
Eram
dezoito horas quando começou a piorar. Fomos ao Pronto-Socorro
onde ele foi atendido e ficou sendo tratado sem muitas melhoras. Passamos
a noite ao seu lado orando por ele, que só começou a melhorar
às sete da manhã. Fomos liberados com a condição
de, chegando em casa, fazer uma câmara de vapor que preparei em
seu berço, colocando panelas de água fervente fora do berço,
sob a cobertura. Eram nove da manhã quando ele ficou perfeitamente
bem e aquele problema nunca mais se repetiu.
Deus
providenciou aqueles momentos para que percebêssemos o quanto ele
era importante para nós. Já o amávamos, mas ainda
não era possível avaliar o quanto. Só quando vemos
que podemos perder alguém é que passamos a dar-lhe o devido
valor e Deus permitiu aquela emergência para reforçar os
vínculos que já nos uniam.
—
A partir de Janeiro de 2001 a tia Cristina cuidou do Samuel durante o dia, mas em Novembro ela não pode continuar. Era o tempo de Deus, sem dúvida e aproveitamos o que havia de folgas e férias para ficar com o nosso filho.
Matriculamos
então o Samuel na EMEI Pingo de Gente, cuja diretora é a
tia Sônia, também irmã da Betinha e lá eles
cuidaram do nosso filhão até terminar o Pré III,
no final de 2006.
Amamos
cada professor e cada funcionário daquela EMEI.
Ocorre
que morávamos no extremo Norte da cidade e a escola fica na Zona
Sul; viajávamos dezessete quilômetros até a escola
para então irmos ao trabalho.
Também
passamos a servir o Senhor em uma igreja próxima da EMEI e sentimos
a necessidade de mudar de endereço.
Era
o final de Maio de 2003 quando colocamos diante de Deus essa necessidade.
No princípio de Outubro daquele ano, fiz um cartaz de “Vende-se”
para nossa casa e pensei em procurar uma casa próxima à
escola, mas, antes de afixar o cartaz, disse à Betinha que iria
colocar aquilo, novamente, no altar de Deus.
Fomos
ao culto onde encontrei um irmão que até ali não
conhecia e que estava curioso para me conhecer, pois alguém havia
lhe falado a meu respeito quando passavam próximos ao bairro em
que eu morava..
Apresentamo-nos
um ao outro, cordialmente e ele não tinha mais nada a me falar,
então lhe disse que pretendia mudar. Seu rosto se iluminou e ele
me disse:
-Então,
compre a minha casa!
Ele
precisava mudar para outra cidade e Deus direcionou-o a falar comigo.
Quando
visitamos a casa passamos por todos os cômodos e, ao sair, perguntei
a Bete sobre o piso, que eu não tinha prestado atenção.
Ela também não reparara. E o forro? Idem!
É
de pasmar. Uma mulher entra na casa que pretende comprar e não
percebe detalhes! Acontece que, quando entramos naquela casa, já
sentimos que seria nossa. Não houve a preocupação
de olhar os detalhes.
Só
Deus para fazer isso!
Para
comprar aquela casa, teríamos que vender a nossa e no bairro em
que morávamos haviam muitas casas à venda. No dia cinco
de novembro, passado um mês sem conseguir vender, coloquei o problema
diante de Deus. Se eu não negociasse a casa até o dia catorze
abriria mão da outra, pois o irmão Aristides tinha pressa
em viajar.
No dia doze, dois antes do prazo, portanto, consegui fechar negócio sem diminuir o preço ou dar qualquer outra vantagem ao comprador, que, até hoje, não mexeu na casa, não definiu o que fazer com ela e não sabe por que a comprou. Eu sei por que ele comprou. Deus o mandou fazer isso.
De
posse do dinheiro comprei a nova casa. A cem metros do portão da
EMEI e a duzentos metros do templo da Igreja e a apenas quatro quilômetros
do meu trabalho.
Mudamos
no dia 25 de Janeiro de 2004 e desde então o consumo de combustíveis
e demais despesas com o carro caíram vertiginosamente, além
de eu estar morando em um lugar bem melhor, em casa mais ampla e gostosa.
Hoje
o Samuel já tem sete anos. É um menino de oração.
Inteligente, estudioso, amoroso, conhecedor da Palavra de Deus. Tem nos
dado grandes alegrias e é uma experiência maravilhosa em
nossas vidas. Ele canta no Coral Infantil desde 2004 e aprende a tocar
teclado desde Maio de 2006.
Eu
ainda mantenho vínculo com o Esquadrão da Vida, onde dou
o meu testemunho e falo da obra de Deus aos internos e o Samuel é
o meu companheiro constante. Frequenta aquela casa comigo desde que aprendeu
a andar sozinho.
Acho
que vou parar por aqui para não esticar demais a história,
mas, se você precisar, conte comigo. Terei prazer em orar com você
e em auxiliar no que for possível.
Que Deus o abençoe e a todos os seus e lembre-se: Não desista nunca, porque Deus nunca vai desistir de você!
Elio Roldan Anderson
10 de Novembro de 2007
—
Preciosa Graça!
Preciosa
Graça de Jesus, que um dia me salvou.
Perdido andei, sem ver a luz, mas Cristo me encontrou.
A
Graça, então, meu coração, do medo libertou!
Oh, quão preciosa salvação a Graça me outorgou.
Promessas
deu-me o Salvador, e nele eu posso crer!
É meu refúgio e proteção em todo o meu viver.
Perigos
mil, atravessei. A Graça me valeu.
Eu são e salvo agora irei ao Santo Lar do céu.
—
I Crônicas 16:8-36
Louvai
ao Senhor, invocai o seu nome, fazei conhecidas as suas obras entre os
povos. Cantai-lhe, salmodiai-lhe, atentamente falai de todas as suas maravilhas.
Gloriai-vos no seu santo nome; alegre-se o coração dos que
buscam ao Senhor. Buscai ao Senhor e a sua força; buscai a sua
face continuamente. Lembrai-vos das maravilhas que fez, de seus prodígios,
e dos juízos da sua boca; Vós, semente de Israel, seus servos,
vós, filhos de Jacó, seus escolhidos.
Ele é o Senhor nosso Deus; os seus juízos estão em toda a terra. Lembrai-vos perpetuamente da sua aliança e da palavra que prescreveu para mil gerações; Da aliança que fez com Abraão, e do seu juramento a Isaque; O qual também a Jacó confirmou por estatuto, e a Israel por aliança eterna, Dizendo: A ti te darei a terra de Canaã, quinhão da vossa herança. Quando eram poucos homens em número, sim, mui poucos, e estrangeiros nela, quando andavam de nação em nação e de um reino para outro povo, a ninguém permitiu que os oprimisse, e por amor deles repreendeu reis, dizendo: Não toqueis os meus ungidos, e aos meus profetas não façais mal. Cantai ao Senhor em toda a terra; anunciai de dia em dia a sua salvação. Contai entre as nações a sua glória, entre todos os povos as suas maravilhas. Porque grande é o Senhor, e mui digno de louvor, e mais temível é do que todos os deuses. Porque todos os deuses dos povos são ídolos; porém o Senhor fez os céus. Louvor e majestade há diante dele, força e alegria no seu lugar. Tributai ao Senhor, ó famílias dos povos, tributai ao Senhor glória e força. Tributai ao Senhor a glória de seu nome; trazei presentes, e vinde perante ele; adorai ao Senhor na beleza da sua santidade. Trema perante ele, trema toda a terra; pois o mundo se firmará, para que não se abale. Alegrem-se os céus, e regozije-se a terra; e diga-se entre as nações: O Senhor reina. Brame o mar com a sua plenitude; exulte o campo com tudo o que nele há; Então jubilarão as árvores dos bosques perante o Senhor; porquanto vem julgar a terra. Louvai ao Senhor, porque é bom; pois a sua benignidade dura perpetuamente. E dizei: Salva-nos, ó Deus da nossa salvação, e ajunta-nos, e livra-nos das nações, para que louvemos o teu santo nome, e nos gloriemos no teu louvor. Bendito seja o Senhor Deus de Israel, de eternidade a eternidade.
Ao
Senhor seja toda a honra e toda a glória para sempre!
|